CFC investiga falha em banco
Data de Publicação: 22 de novembro de 2010
O Conselho Federal de Contabilidade começa amanhã uma investigação inédita no país: vai apurar se houve infração ética ou incapacidade técnica de auditores e contadores no caso do banco PanAmericano.
O rombo de R$ 2,5 bilhões no banco de Silvio Santos não foi apontado em análises da Deloitte nem da KPMG.
A Deloitte audita os balanços do PanAmericano desde 2004; a KPMG foi contratada pela Caixa Econômica Federal antes de esta injetar R$ 740 milhões no banco de Silvio Santos, no ano passado.
É a primeira vez que o conselho investiga o trabalho de auditores porque uma lei aprovada em junho deu a ele essa nova atribuição.
O conselho vai solicitar documentos às empresas, ao PanAmericano e ao Banco Central. Se houver negativa, o pedido será feito na Justiça.
As punições previstas são multa, suspensão do registro profissional e cassação do registro do envolvido.
"Um fato como esse tem uma repercussão brutal na nossa atividade. Precisamos investigar porque é o tipo de história em que não existe meia verdade", diz Juarez Carneiro, presidente do conselho federal.
O rombo do PanAmericano teve repercussão até no congresso mundial de contabilidade, que acabou há uma semana em Kuala Lumpur, na Malásia, segundo ele.
A cassação está prevista em três casos: incapacidade técnica de natureza grave, apropriação indébita e fraude contra o fisco.
A falsificação de registros contábeis não é punida com cassação. Fraude contábil, porém, pode ser encarada como incapacidade técnica grave, infração punida com a cassação de registro.
A investigação em torno do PanAmericano é a primeira que envolve o trabalho de auditores, mas não é a primeira apuração do conselho.
A primeira apuração foi sobre um pregão eletrônico do Banco do Brasil para a contratação de auditoria.
O lance inicial era de R$ 19,6 milhões, uma empresa já fazia o mesmo serviço por R$ 6,5 milhões, mas o preço final do pregão ficou em R$ 95 mil. O conselho quer saber se houve aviltamento de honorários.
OUTRO LADO
A empresa Deloitte informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não foi notificada da investigação do conselho, mas pretende colaborar com ela.
A KPMG afirmou, em nota divulgada logo após o anúncio do rombo no PanAmericano, que não auditou as demonstrações financeiras do PanAmericano, mas checou dados nos computadores do banco do qual o grupo de Silvio Santos é controlador.
SAIBA MAIS
Mercado está concentrado em quatro auditorias
MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO
O mercado nacional e global de auditorias é fortemente concentrado em quatro empresas-o "big four" ("quatro grandes").
PwC (PricewaterhouseCoopers), Ernst & Young, Deloitte e KPMG atuam em mais de 140 países e faturam, cada uma, mais de US$ 20 bilhões por ano.
Até os anos 1980, eram oito grandes empresas. O número encolheu devido a três fusões e à falência da Arthur Andersen, que auditava as contas fraudulentas da Enron.
No Brasil, as quatro auditam 60,59% das empresas de capital aberto, segundo ranking da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de junho.
"Toda empresa quer ser auditada por uma delas, pois gera confiança. O problema é que essa concentração cria corporativismo e deixa os serviços muito parecidos", disse o ex-auditor da PwC e professor da FGV Sergio Bessa.
Ele lembra que as auditorias passaram a atuar como consultorias para elevar a receita. Para ele, isso gera conflito de interesses.
A prática é proibida nos EUA desde 2002. A CVM adotou recomendação semelhante, conta. "Só que a auditoria é pública, e a consultoria, não."
Fonte: Folha de S.Paulo